0 nosso chafariz é intemporal.
Teve a sua época áurea até um passado recente, enquanto das suas bicas brotou água cristalina. Hoje, vítima do progresso e sem a funcionalidade de outrora, marca presença e continua sendo um ponto de referência da nossa terra.
Situado no coração da aldeia mesmo à berma da estrada mitigou a sede a passantes peregrinos. Quantas gerações se criaram com a água da nossa fonte! Era buscada em cântaros ou canecos, para uso doméstico, transportada à cabeça com mestria e elegância, quase sempre por moças airosas, na flor da idade, que procuravam ansiosas o momento de sair para ir à fonte, na esperança de encontrarem o namorado ou pretendente, para dois dedos de conversa ou um beijinho furtivo o que, à época, era já um grande atrevimento.
A evolução tirou-nos o encanto destes actos simples que faziam parte do social de então e, embora o luar seja o mesmo e o murmurejar da fonte continue a ouvir-se, ela não nos mata a sede nem do corpo nem da alma. Porém, na nossa memória continua viva a recordação do passado, a frescura e pureza da sua água, fonte de vida, contrastando com a que no dia a dia nos sai das torneiras, bem tratada, é certo, mas que não nos inspira qualquer quadro romântico semelhante àquele em que o cântaro a encher na bica suavizava as agruras dum povo que mourejava de sol a sol.