Falou-se um pouco dos tempos remotos de Avelãs de Caminho, mas muito mais havia a dizer sobre o passado da nossa terra e suas vivências.
Assim, nos anos 20 e 30, Avelãs foi realmente uma das povoações do concelho de Anadia mais prósperas e abundantes no ramo industrial e agrícola. Alguns dos complexos industriais que ainda alguns habitantes se recordam foi a fábrica de papel, a das rolhas, a fábrica de pregos, de curtumes e carpintarias e que por tal razão deram a esta povoação uma grande projecção não só regional como até nacional.
Destacava-se nesta freguesia como actividade a par da agricultura, a moagem de cereais (milho e trigo) existindo ainda há relativamente pouco tempo vários moinhos como: os moinhos das Nogueiras, da Rua, da Cobrada e do Moinho Novo, graças à situação geográfica que Avelãs possui e por se encontrar banhada pelo rio Cértoma e pelo rio da Serra da Cabria.
Pena é, que aos poucos, tivessem deixado a sua actividade e como o tempo não perdoa, se tivessem degradado de tal maneira que hoje apenas existem as ruínas daqueles que outrora deram vida a esta terra laboriosa.
Não se pode deixar de fazer referência a algumas figuras (beneméritas) da nossa terra que muito contribuiram para o seu engrandecimento e desenvolvimento cultural. Foram eles, António Ribeiro de Seabra e seus sobrinhos Ricardo, Gervásio e Adriano Seabra.
Graças a estes filhos da Terra, e devido ao seu poder económico, Avelãs foi beneficiada com certas regalias das quais bem se pode orgulhar. Foi o benemérito António Ribeiro Seabra, cujo busto se encontra na Escola, que deixou uma determinada quantia à Escola (renda perpétua) para a caixa escolar que durou até aos nossos dias. Depois os sobrinhos, Gervásio, Ricardo e Adriano deram continuidade à sua obra contribuindo para a construção e a manutenção de uma cantina onde às crianças carenciadas fosse servido o almoço, no qual não faltava o óleo de fígado de bacalhau que era obrigatório as crianças tomarem para que crescessem fortes e saudáveis.
Era-lhes fornecido também gratuitamente, botas, sapatos, material escolar etc, para que elas se sentissem confortáveis e assim Ihes minguassem um pouco as necessidades que passavam, e tantas eram, pois os seus pais não tinham possibilidades para lhes dar outras coisas a não ser o carinho e o amor indispensável para viverem.
Foi também graças a estes beneméritos que se construiu o Bairro Seabra constituído por 10 moradias, mais tarde chamado Bairro da Misericórdia pois era a Misericórdia de Anadia que recebia a pequena renda daquelas pessoas mais necessitadas a quem tinha sido distribuída uma habitação.
Hoje a maior parte dessas casas já foram compradas pelos inquilinos que as restauraram a seu belo prazer e conforme as suas possibilidades.
Há que recordar também que Avelãs foi privilegiada pelo seu Posto de Peixe. Devido às influências dos Srs. Seabras, como eram conhecidos, conseguiram estes que Avelãs tivesse ao seu dispor todos os dias, peixe fresco, desde corvina, pescada, pargo, cherne, e outros, que eram vendidos num pequeno edifício construído para o efeito a que se deu o nome Posto de Peixe.
Infelizmente, há muito que acabou essa regalia, e hoje muitas vezes temos de nos limitar a comer peixe congelado e outras vezes comer peixe que se diz "fresco", mas que de fresco pouco tem.
Avelãs continuava a crescer, a desenvolver-se e a industrializar-se e havia necessidade de uma certa segurança tanto dos nossos bens como das próprias pessoas.
Também nesse aspecto fomos pioneiros pois em 1948 foi criado um posto da G.N.R. (Guarda Nacional Republicana) em Avelãs de Caminho. Quantas vezes ao falar de Avelãs de Caminho as pessoas para localizarem a povoação perguntavam:
“- É aquela terra que fica na estrada nacional e tem um posto da G.N.R.?”
Era uma identificação, um marco na nossa terra, uma segurança que o povo sentia com a sua presença, mas que mercê de alguma politiquice, a mesma deu azo a que o Posto tenha sido encerrado o qual tanta falta faz e que durante mais de meio século nos protegeu.
Foi Avelãs protagonista dum acontecimento digno de alguns comentários nos jornais em 1955(?).
Dada a amizade dos Srs. Seabras ao Presidente República do Brasil, Café Filho, foi numa das suas visitas de Estado ao nosso país e dirigindo-se com a sua Comitiva para o Porto, acompanhado do nosso Presidente da República, General Craveiro Lopes, passou por Avelãs de Caminho pela E.N. nº1 (ainda não havia auto-estrada) e que foi homenageado pelo povo que se juntou fazendo alas e o ovacionou, presenteando-o com um tapete de flores com as cores da bandeira Brasileira por onde o Presidente Café Filho passou para cumprimentar os familiares dos Srs. Seabras. Prestou o povo assim a sua gratidão aos Srs. Seabras, homenageando o seu amigo brasileiro.
Sendo Avelãs de Caminho banhada por 2 rios, onde abundava muito e bom peixe nas suas águas cristalinas, muitos eram aqueles que desportivamente se dedicavam à pesca nos seus tempos livres. Formou-se então o grupo desportivo "Amadores de Pesca do Cértoma". Muitos foram os concursos que se organizaram e onde as pessoas conviviam em grande camaradagem e passavam bons momentos já que a calma do dia a dia assim o permitia.
Com o aparecimento da "Caixa Mágica" - televisão - o Clube adquiriu uma para a sua sede, a qual veio contribuir para que as pessoas se juntassem em redor da mesma num são convívio e em salutares serões.
Enquanto os cavalheiros se entretinham a jogar cartas e dominó, no Inverno e ao calor do fogão algumas das senhoras tricotavam, bordavam ou faziam outros labores, outras delas viam os programas de televisão ou cavaqueavam.
Era um convívio saudável que foi morrendo aos poucos, pois a compra da "Caixa Mágica" que a maioria adquiriu, contribuiu para que os ditos serões se fossem naturalmente desvanecendo, acabando mesmo por terminarem.
E porque nunca é demais lembrar também Avelãs de Caminho foi digna do privilégio quando em 1931 foi criado o Posto de Correio em resultado da necessidades de comunicações rápidas devido ao desenvolvimento industrial e agrícola que a povoação já possuía. Do correio falamos mais adiante com mais algum pormenor.
A Casa do Povo é mais uma das instituições que perdura até aos nossos dias teve momentos de grande actividade, como grupos desportivos de atletismo e futebol (Os Andorinhas). Grupos de Teatro, Ranchos e outras actividades culturais que à frente iremos referenciar.
Com o decorrer do tempo o modo de vida alterou-se e hoje poucas são as pessoas que se dedicam à agricultura. No entanto, Avelãs desenvolveu-se nas areas industrial, comercial e social e hoje são dezenas as industrias mais diversificadas que possui, nomeadamente de cerâmica, metalomecânica, madeiras, bilhares, embalagens carpintarias, vinhos, plásticos e entre outras. De salientar também os estabelecimentos comerciais que possui, como sejam cafés, restaurantes e lojas dos mais diversos géneros os quais dão vida à nossa bonita aldeia e que são o orgulho da nossa terra e das nossas gentes, fazendo dela uma Freguesia em franco desenvolvimento, como prova o aumento anual de habitantes, dando origem às instituições que se vêm formando e das quais iremos falar.
Que Deus abençoe a nossa Terra!
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